LAGOA DE BUSCA VIDA É FUNDAMENTAL PARA O EQUILÍBRIO HÍDRICO E ECOLÓGICO DA REGIÃO

LAGOA DE BUSCA VIDA É FUNDAMENTAL PARA O EQUILÍBRIO HÍDRICO E ECOLÓGICO DA REGIÃO

As mesmas águas que compõem uma das mais belas paisagens do Condomínio Busca Vida (CBV) são também responsáveis pela manutenção da biodiversidade, o suprimento de água e até a garantia de um clima mais ameno na região. Formada a partir do afloramento de lençóis freáticos, a Lagoa de Busca Vida vem passando por um processo de eutrofização que, segundo especialistas, tem causas tanto naturais, quanto decorrentes de intervenções externas. A solução passa por um planejamento periódico de limpezas, mas também pela contribuição individual de todos os moradores e colaboradores do CBV.

“Integrante da bacia hidrográfica do Rio Joanes, a importância da lagoa para o ecossistema de Busca Vida e região é justamente o suprimento de água e a manutenção da biodiversidade inerente a um corpo hídrico, tanto da flora, quanto da fauna, além de atrair outros animais, outras plantas que estão na circunvizinhança. Ela é altamente significativa do ponto de vista da manutenção do equilíbrio hídrico para toda essa região, que se estende por todo o Litoral Norte do estado”, afirma o presidente do Conselho Gestor da Área de Proteção Ambiental (APA) Joanes Ipitanga, e especialista em Meio Ambiente do Instituto do Meio Ambiente e Recursos Hídricos – INEMA, Geneci Braz.

Assoreamento e eutrofização

A bióloga Suzana Sendacz acrescenta que as lagoas costeiras contribuem para a manutenção do lençol freático e para a estabilidade climática local e regional. “No entanto, são sistemas frágeis, susceptíveis a qualquer ação antropogênica decorrente da urbanização. Sofrem uma sedimentação contínua, que constitui mais um fator causador de sua fragilidade”, explica Suzana, que trabalhou como pesquisadora científica por 30 anos no Instituto de Pesca da Secretaria de Agricultura do Estado de São Paulo.

De acordo com a especialista, a Lagoa de Busca Vida vem sofrendo, como todos os ambientes aquáticos continentais, um processo de eutrofização, ou seja, um acúmulo de nutrientes, principalmente nitrogênio e fósforo. Essa eutrofização pode ser natural, considerada um   “envelhecimento” natural do ecossistema, ou artificial ou cultural, quando o aporte de nutrientes se deve a impactos causados pela ação do ser humano. Alguns exemplos são nutrientes carreados através de escoamento do solo em áreas agrícolas, recebimento de esgotos e efluentes industriais em áreas urbanizadas.

“A lagoa vem sendo submetida a processos de degradação em função do próprio assoreamento. À medida que você vai tendo interferências, mesmo na parte externa, não necessariamente dentro de Busca Vida, mais ela vai tendo suas características alteradas, em função dos diversos materiais que vão sendo carreados para a lagoa. E a própria vegetação vai morrendo e se regenerando, a ponto dela ter um quantitativo muito grande de material orgânico. Tanto que há a necessidade de serem realizadas intervenções de manutenção visando a retirada de material em excesso, promovendo assim maior oxigenação, e consequentemente mantendo as suas funções ecossistêmicas,” explica Geneci Braz.

Folhas e caules em decomposição aumentam o depósito de matéria orgânica, acarretando paulatinamente o avanço da vegetação das margens para o centro. Ao longo do tempo, as plantas pioneiras serão substituídas por arbustos lenhosos e, em seguida, por árvores. “Esse fato é observado na lagoa em Busca Vida e me parece que vivenciamos um processo natural de sucessão ecológica. Lagoas estão sempre em evolução, e seu clímax é transformar-se num ecossistema terestre”, esclarece a bióloga Suzana Sendacz.

Ação humana

De acordo com o presidente do Conselho Gestor da Área de Proteção Ambiental (APA) Joanes Ipitanga, algumas intervenções humanas têm agravado o problema. Ele destaca o barramento feito sobre a lagoa, ligando ruas do condomínio.

Barramento – entre vias internas
Barramento – no limite entre Busca Vida e Jauá

 

“A comunicação entre ‘as partes da lagoa’ se verifica por meio de manilhões que precisam de avaliação e manutenção”. Além disso, como há um fluxo hídrico ligando as demais lagoas da região, as ocupações da área de Jauá e circunvizinhança contribuem com o descarte de resíduos domésticos que promovem o acúmulo de matéria orgânica. Isso torna o ambiente ideal para o crescimento e a aglomeração de plantas aquáticas, a exemplo do junco.

“Essas unidades residenciais de Jauá não dispõem de esgotamento sanitário, algumas contam com fossa séptica, então contribuem lançando esgoto in natura nas lagoas. O junco é consequência, justamente, de muita matéria orgânica na água”, diz Geneci Braz. Quanto mais matéria orgânica houver, maior será o acúmulo de junco e mais acelerado será o seu crescimento. “Por isso, é preciso que haja uma manutenção periódica com a retirada dessa vegetação que está distribuída ao longo do espelho d’água, para que a laga tenha maior visibilidade e aumente o processo de oxigenação, favorecendo a diversidade biológica, aconselha o especialista.

Já de acordo com a bióloga Suzana Sendacz, o que deve ser feito é evitar que se lance esgoto sem tratamento em Jauá. Ela explica que não há um levantamento das condições físicas e químicas da lagoa e de seus tributários contribuintes para confirmar se está havendo aporte de nutrientes em excesso ou tirar conclusões sobre seu estado trófico. “A retirada de junco das margens não evitaria o avanço da vegetação das margens em direção ao centro da lagoa, processo este já consolidado”, avalia a especialista.

Incêndios – A quantidade elevada de junco acumulado na lagoa é uma das causas de incêndios no local, principalmente no Verão. “Temos ocorrência de muitos incêndios nessa região do Litoral Norte e Busca Vida, principalmente nessa área de vegetação do entorno da lagoa, onde tem o material mais seco, que é mais inflamável”, afirma Braz.

“A APA Joanes Ipitanga, onde está inserida a lagoa de  Busca Vida, vem sofrendo inúmeros impactos antropogênicos, tais como ocupação urbana desordenada da região, lançamento de esgotos domésticos e industriais nos rios e lagoas, extração ilegal de areia, arenoso e barro, depósito irregular de lixo, desmatamento, queimadas e poluição atmosférica. Alguns destes impactos ocorrem também na lagoa e devem ser monitorados”, recomenda a bióloga Suzana Sendacz.

Soluções

Para resolver os problemas apontados, o presidente do Conselho Gestor da APA Joanes Ipitanga afirma que a lagoa precisa passar por um processo de limpeza, que inclua a  retirada da vegetação acumulada, inclusive em suas margens, para que o espelho d’água se torne mais evidente e a água comece a oxigenar melhor. “Isso melhoraria muito, tanto a nível de manutenção da biodiversidade, melhoria do fluxo hídrico e da oxigenação”, afirma. O especialista em Meio Ambiente do INEMA recomenda um método de limpeza mais manual do que mecânico, com o objetivo de minimizar os impactos.

“Mexer em fundo de lagoa, em sedimentos, vai trazer consequências na própria dinâmica hídrica e na manutenção da biodiversidade. Na medida em que você entra com interferência, mexendo na parte de baixo, mais profunda, revolvendo material, isso vai acarretar processos de degradação que trarão consequências à biodiversidade e à própria dinâmica hídrica da lagoa. Então, a maneira aconselhável seria justamente fazer um trabalho mais artesanal, em vez de colocar máquinas para fazer escavações, consequentemente trazendo mais impactos para a área”, argumenta Geneci Braz.

Há, ainda, áreas que precisam ser revegetadas para evitar assoreamento. A recomendação é válida não apenas para Busca Vida, mas também para todas as lagoas da região, que se intercomunicam. “Esse manejo mais orientado, de forma técnica e mais criteriosa, com certeza irá evitar problemas de incêndio e manter a lagoa de forma mais adequada e mais prazerosa para a localidade”, afirma o especialista.

Contribuição dos moradores

Uma das principais contribuições que podem ser dadas pelos moradores de Busca Vida é evitar captar a água da lagoa para molhar gramados e plantas sem a devida autorização do órgão ambiental. “Tem que ter a outorga para poder retirar essa água, porque em períodos de Verão,  ela baixa. Além disso, o condomínio pode contribuir fazendo a revegetação da áreas que estão desnudas para evitar processos de assoreamento, limpando os locais onde há muito material orgânico, muito junco”.

Outra recomendação do especialista é a orientação e conscientização dos moradores a respeito da importância da lagoa para o CBV, não apenas internamente, mas também externamente. A colocação de placas educativas que destaquem a importância da lagoa para a biodiversidade é uma das ações sugeridas.

Busca Vida, 14.09.2018.