Responsável por cerca de 40% do abastecimento de água de Salvador e região metropolitana, o Rio Joanes chega à sua foz – entre as praias de Buraquinho e Busca Vida – completamente poluído. Local de lazer e prática de esportes náuticos de antigos moradores do Condomínio Busca Vida (CBV), suas águas têm sofrido com a ocupação desordenada e com a falta de saneamento básico ao longo dos sete municípios que percorre desde a sua nascente, em São Francisco do Conde: São Sebastião do Passé, Candeias, Simões Filho, Dias D’Ávila, Camaçari, Lauro de Freitas e Salvador. Para além desses dois problemas centrais, cuja solução envolve a participação dos poderes públicos, há ações que podem ser realizadas por todos os cidadãos para contribuir com a limpeza do Joanes.
“Acho que todo cidadão deveria participar de ações socioambientais e contribuir com esse processo que é importante, tendo em vista que a gente tem um reservatório, um sistema hídrico estratégico de abastecimento. Então, vale a pena se esforçar mais”, afirma o presidente do Conselho Gestor da Área de Proteção Ambiental (APA) Joanes Ipitanga, e especialista em Meio Ambiente do Instituto do Meio Ambiente e Recursos Hídricos – INEMA, Geneci Braz. Como contribuições que podem ser feitas pelo CBV e seus moradores, ele sugere a participação através de ações coletiva de limpeza de praia e do manguezal, educação ambiental junto aos moradores e estudantes do condomínio e a sinalização das áreas de preservação, como os manguezais. Algumas delas, como a confecção de placas de identificação da área da APA e algumas ações coletivas, já vêm sendo realizadas conjuntamente pelo condomínio em parceria com a APA.
Criada em 1999, a APA Joanes Ipitanga tem como objetivo auxiliar na preservação desse importante manancial, de forma a atuar nas questões ambientais, ligadas aos recursos naturais e aos ecossistemas, e também fazer a gestão participativa junto às comunidades e aos principais atores e segmentos da região. “A APA procura compatibilizar essas atividades produtivas com a preservação dos recursos naturais, envolvendo os atores que estão nesse território”, explica Geneci Braz.
Ocupação do solo e saneamento básico
O desmatamento é um dos problemas observados ao longo das margens do Rio Joanes. Trata-se de uma região com importantes remanescentes florestais, como reservas de Mata Atlântica, que estão sendo desmatadas devido à pressão pelo uso e ocupação do solo. Este é um dos motivos do surgimento das ocupações desordenadas que vêm ocupando áreas de preservação permanente, algumas próximas aos reservatórios. “Isso vem repercutindo na qualidade e na disponibilidade da água, porque na medida que essas ocupações não têm um bom sistema de esgotamento sanitário ou não são planejadas, elas vão trazer problemas para o manancial”, explica o gestor da APA Joanes Ipitanga.
O déficit de saneamento básico é um dos grandes problemas da região, porque nem todos os municípios têm sistema de esgotamento sanitário completo. Dessa forma, muitos dos esgotos produzidos pelas unidades residenciais são lançados diretamente no Rio Joanes ou em seus afluentes. Por isso, implantar e ampliar o sistema de esgotamento sanitário nesses municípios é fundamental para melhorar a qualidade da água no reservatório.
Pontos mais críticos
Nesse sentido, os locais mais críticos, segundo o gestor da APA, são a Represa Joanes 1, principalmente na região de Simões Filho, porque o esgoto da cidade deságua no Rio Muriqueira. Esse lançamento tem comprometido a qualidade da água. De acordo com Geneci Braz, problema semelhante acontece em Camaçari, porque as obras do rio que leva o nome da cidade ainda não foram concluídas. Consequentemente, o esgotamento sanitário ainda é lançado sobre a bacia do Joanes.
Outro ponto crítico é Represa Ipitanga 3, em Simões Filho, que também recebe esgoto na área de Pitanguinha e Jardim Nova Esperança, dentre outros locais. Além disso, quando o Rio Ipitanga sai da Represa Ipitanga 1, em direção à Lauro de Freitas, passa por São Cristóvão, entra em Lauro de Freitas e recebe esgotamento sanitário dos seus afluentes. “Quando o Ipitanga encontra com o Rio Joanes em Lauro de Freitas, está completamente poluído, e descarrega uma boa quantidade de poluentes sobre ele. Consequentemente, isso vai repercutir na foz do Joanes, onde está a Praia de Buraquinho”, descreve.
Soluções
As alternativas para resolver o problema do Rio Joanes passam pela ampliação no sistema de infraestrutura e esgotamento sanitário. “As cidades precisam ampliar a cobertura desses sistemas para minimizar o efeito de lançamento de esgoto nos reservatórios e intensificar as ações dos poderes públicos. Ou seja, a questão de uso e ocupação do solo precisa ser mais fiscalizada, no sentido de coibir essas invasões e ocupações desordenadas que estão afetando as áreas dos reservatórios, principalmente as matas ciliares”, afirma o gestor da APA Joanes Ipitanga.
Ao lado da criação de redes de saneamento básico nos municípios, a população precisa fazer as ligações de suas residências nessa rede. Outro pronto importante são as ações educativas, para que as pessoas se conscientizem sobre a importância do rio, dos reservatórios, da preservação desse manancial.
Busca Vida
De acordo com Geneci Braz, a faixa de manguezal situada no limite do Rio Joanes contribui com a proteção de Busca Vida sobre os poluentes trazidos pelo Rio Joanes. Nos períodos mais secos, com pouca chuva, o rio recebe uma quantidade de esgoto maior – porque, muitas vezes, a população aumenta durante o Verão – e, como a diluição da água diminui, o rio fica ainda mais poluído. Essas impurezas vão principalmente para a Praia de Buraquinho, mas podem se estender até Busca Vida em função das marés.
“Infelizmente, nos monitoramentos, a Praia de Buraquinho está caracterizada constantemente como imprópria, em função do alto índice de poluição que ela tem recebido. Isso é importante para as pessoas que visitam a praia tomem conhecimento dessa impropriedade das águas e não venham a ter problemas relacionados ao contato com microorganismos patogênicos, dentre outros, principalmente para quem não conhece, chega e vê aquela praia muito bonita”, alerta Geneci Braz.
Ele destaca o papel importante do CBV como agente fiscalizador, inclusive através de seus moradores, orientando, verificando ações de degradação do seu próprio manguezal, de lançamento de lixo e desmatamento, até na área de Lauro de Freitas. Qualquer pessoa pode identificar esse tipo de problema e encaminhar aos devidos órgãos competentes. Outro ponto que merece atenção é o esgotamento sanitário dos subcondomínios. “O CBV tem uma participação importante, na medida que os moradores conheçam onde estão morando, a importância do rio que está passando ao lado, apesar da poluição. O condomínio tem uma ação importante identificando as áreas que sejam passíveis de revegetação e também no sentido de orientar as pessoas para proteger esse rio tão importante”, conclui.
Rio Joanes
– Nasce em São Francisco do Conde e percorre 7 municípios: São Sebastião do Passé, Candeias, Simoes Filho, Dias D’Ávila, Camaçari, Lauro de Freitas e Salvador.
– Seu principal afluente é o Rio Ipitanga, que nasce em Simões Filho e encontra com o Rio Joanes já em Lauro de Freitas, no fundo do Condomínio Encontro das Águas.
– Tem 2 represas: Joanes 2 e Joanes 1. O Rio Ipitanga tem 3 represamentos: Ipitanga 3, Ipitanga 2 e Ipitanga 1.
– Nessas represas, é acumulada a água (que forma as bacias hidráulicas) e, a partir daí, parte dessa água é captada para posterior tratamento e distribuição.
TRAJETO DO RIO JOANES DA NASCENTE A FOZ