PARQUE DAS DUNAS DE CAMAÇARI SERÁ FUNDAMENTAL PARA BUSCA VIDA

PARQUE DAS DUNAS DE CAMAÇARI SERÁ FUNDAMENTAL PARA BUSCA VIDA

Entrevista I – Eduardo Cesana

O Parque das Dunas de Camaçari será fundamental para proporcionar a sustentabilidade da Lagoa de Busca Vida, preservando a qualidade de vida e harmonia da paisagem. A regulamentação dessa área de 700 hectares, considerada um importante cordão de dunas e matas de restinga, próxima a Salvador, é um dos assuntos abordados pelo engenheiro ambiental Eduardo Cesana. Morador do Condomínio Busca Vida (CBV) há 13 anos, ele é conselheiro do Grupo Ambientalista da Bahia – GAMBA e foi integrante do Conselho Gestor da APA Joanes Ipitanga. Cesana adverte que a poluição no Rio Joanes não impacta, apenas, a praia de Buraquinho. Em algumas das medições realizadas, mensalmente, pelo Instituto do Meio Ambiente e Recursos Hídricos, áreas da Praia Busca Vida, próximas ao estuário, também apresentaram indícios de contaminação. Na entrevista, ele aponta ações que podem ser empreendidas para preservar a qualidade ambiental.

O senhor participou de uma audiência sobre o Parque das Dunas de Camaçari, realizada em 5 de maio. Qual a importância desse parque e de que forma ele impacta em Busca Vida?

Eduardo Cesana – Na audiência, foi debatida  a necessidade ter essa área protegida. A região vive, hoje, uma intensa pressão do interesse dos especuladores imobiliários. A importância desse parque seria dotar o município de Camaçari de uma área de dunas preservada, com manutenção da flora e fauna característica desse ecossistema. Com isso, haveria a valorização da paisagem natural, integrada ao corredor ecológico proposto pelos grupos ambientalistas, e endossado pelos gestores da APA Joanes Ipitanga. Tal ação iria favorecer a um tipo de turismo e valorizar os empreendimentos imobiliários, planejados dentro dos conceitos de sustentabilidade ambiental, que poderão haver no seu entorno. No caso, para os moradores de Busca Vida, é de grande interesse que seja estabelecido o Parque das Dunas de Abrantes. A proteção e preservação das dunas garantem a existência da lagoa de Busca Vida. Além isso, também garante a qualidade da água da referida lagoa, que é alimentada pelas águas que vêm das chuvas que caem nas dunas. Nelas, as águas são armazenadas e, aos poucos, drenadas para a lagoa.

O Condomínio Busca Vida (CBV) não contribui com o lançamento de esgoto na lagoa. Os protocolos de autorização para construção, estabelecidos pela Convenção do condomínio, funcionam como um sistema de Licenciamento Ambiental, e observam todos os critérios de ocupação definidos pelo Zoneamento Ecológico-Econômico da Área de Proteção Ambiental Joanes-Ipitanga.

A lagoa de Busca Vida passa por um processo de deterioração, por vezes agravado, em consequência de ocupação mal planejada. Por isso, é de suma importância a proteção de seu entorno.

Se houver adensamento da ocupação do seu entorno com habitações, construção de ruas poderá haver comprometimento do lençol freático e o esgoto poderia alcançar a lagoa, agravando a degradação da qualidade das águas com um processo de eutrofização.

Quais são essas diretrizes previstas? Elas são cumpridas pelo Condomínio Busca Vida?

EC – Sim, o CBV tem regras ambientais mais rígidas do que as do município, e as segue à risca. As dunas são áreas protegidas por leis. Legalmente elas não podem ser ocupadas. O zoneamento ecológico determina quais são as regras de ocupação: área ocupada, gabarito, densidade e soluções compatíveis de esgotamento sanitário, e drenagem, além da manutenção integral das áreas de preservação permanente.

Para além da relação com a água da lagoa, qual a importância das dunas de Busca Vida para o ambiente?

EC – As dunas funcionam como divisor da ocupação. Separam o CBV, fisicamente, da área urbanizada. A sua contribuição para a paisagem é fundamental, elas delineiam, harmonicamente, a linha do horizonte. Essas dunas, características do litoral norte da Bahia, são de rara beleza cênica, e já estão deixando de existir na RMS, graças à ocupação predatória. Hoje, as dunas que formam o Parque das Dunas de Abrantes são as mais próximas de Salvador. As Dunas da Pituba, e da Boca do Rio, já foram destruídas pela urbanização. Os remanescentes de Dunas do Parque do Abaeté estão comprometidos com a proposta de expansão do Aeroporto.

As dunas se intercalam com matas de restinga, matas essas que abrigam diversos animais de importância para a manutenção do seu equilíbrio e existência. As matas de restinga abrigam diferentes formações vegetais, elas se estabelecem sobre solos arenosos na região da planície costeira. Podem apresentar faixas de elevações, cordões arenosos, e faixas de depressões, entre cordões, dependendo dos processos de deposição, e remoção, feitos pelo vento, de materiais nessas regiões.

A fauna a ser protegida pelo Parque das Dunas de Abrantes é bastante rica. Muitas aves migratórias utilizam as restingas como locais de alimentação e descanso. Destacam-se o periquito-de-cara-vermelha, e a coruja buraqueira, dentre tantos outros. São diversos os mamíferos, répteis e roedores que vivem nas matas de restinga: raposa do mato, guaxinim ou mão pelada, ouriço caixeiro – que está em extinção, tamanduá mirim, capivara e inúmeras espécies de répteis, tais como a Jiboia, Caninana, Cobra-Cipó e Cobra-Coral. Esses animais são frequentes e precisam ser preservados antes que se extingam. Ocorre, também, o lagartinho-de-Abaeté, espécie que vive, exclusivamente, nos ecossistemas de restingas da região.

Como o senhor avalia a preservação da área das Dunas no CBV?

EC – As áreas de Dunas internas ao CBV ainda estão, razoavelmente, preservadas. Na área externa ao condomínio, alguns setores estão sob pressão social, com risco de ocupação indevida, as invasões desordenadas. Ali, em certos setores, está havendo utilização inadequada das Dunas, com retirada de areia e descarte de lixo. Marginais costumam usar as dunas para o abandono de veículos, muitos deles são incendiados. Além disso, existe o uso recreativo pelo “Clube do Jipe”. Trata-se de uma região sob forte tensão social, assim como a área próxima a Sucupió, localizada ao pé das dunas, que está sendo, progressivamente, mal ocupada, sem planejamento, drenagem, sistema de esgotamento sanitário. Os danos ambientais advindos desse tipo de ocupação são incalculáveis.

Ao pé das Dunas de Busca Vida, há uma área com adensamento urbano. Isso resulta em lançamento de esgoto no Rio Catu de Abrantes, hoje totalmente comprometido. É fácil observar através das imagens aéreas da região (GoogleEarth). O lado de Busca Vida está preservado, enquanto o lado externo apresenta progressiva deterioração ambiental.

Qual a situação do Rio Joanes atualmente e qual o seu impacto na praia de Busca Vida?

EC – O Rio Joanes tem um problema. A utilização da água do rio para abastecimento, a partir da Represa Joanes II, resulta em baixo fluxo de água desde a Represa Joanes I. Em seu trecho final, o Rio recebe todo o esgoto de Lauro de Freitas, sem nenhum tratamento, o que agrava, no período seco com a baixa vazão, a poluição do Rio Joanes. Essa poluição reflete, diretamente, na praia de Buraquinho que, quase sempre, apresenta restrições à balneabilidade.

Eventualmente, dependendo do vento e direção das correntes, a contaminação pode atingir a região da Praia de Busca Vida.  Por conta do período chuvoso, o rio tem maior vazão e, consequentemente, o esgoto fica mais diluído.

Como ocorre esse processo de poluição no Rio Joanes no trecho mais próximo à sua foz? Essas informações sobre os índices de poluição da praia de Busca Vida são de conhecimento público?

EC – Sim. O INEMA (Instituto do Meio Ambiente e Recursos Hídricos) divulga, semanalmente, esses boletins. Busca Vida faz parte desse monitoramento das condições de balneabilidade da praia, desde 2017.

Este monitoramento segue os critérios estabelecidos na Resolução CONAMA – Conselho Nacional do Meio Ambiente, as praias são classificadas em relação à balneabilidade, em 2 categorias: Própria e Imprópria sendo que a primeira reúne 3 categorias distintas: Excelente, Muito Boa e Satisfatória.

Essa classificação é feita de acordo com as densidades de bactérias fecais resultantes de análises feitas em cinco semanas consecutivas. Sua classificação, como Imprópria, indica um comprometimento na qualidade sanitária das águas e implica em um aumento no risco de contaminação do banhista. É desaconselhável a utilização de praias classificadas como impróprias para o banho.

Mesmo apresentando baixas densidades de bactérias fecais, uma praia pode ser classificada na categoria imprópria quando ocorrerem circunstâncias que desaconselhem a recreação de contato primário, tais como a presença de óleo provocada por derramamento acidental de petróleo; floração de algas potencialmente tóxicas ou surtos de doenças de veiculação hídrica.

Quais os riscos dessa contaminação para a saúde das pessoas?

EC – A água do mar contaminada também traz risco de infecção por vários agentes tais como bactérias, vírus e parasitas. Não é recomendado o banho de mar nem a permanência na faixa de areia onde foi constatada a contaminação. Evitar visitar essas praias é a melhor maneira de prevenir um possível contato com a contaminação exposta. Ainda assim, quem frequentá-las deve ficar atento para não ingerir a água do mar e tomar o máximo de cuidado com os alimentos.

EC – Além do esgoto, o Rio Joanes aporta muito lixo, e boa parte deste vai parar nas praias. Esse lixo é composto, em grande parte, de materiais plásticos que se acumulam, na sua maioria, na região de mangue do estuário. A situação de poluição do rio já provocou a inviabilização de empreendimentos comerciais, turísticos e atividades esportivas na região do estuário.

Em sua opinião, de que forma o CBV pode contribuir para a limpeza das praias?

EC – O condomínio poderia fazer limpeza das praias de forma voluntária e adotar postura de coleta. Existe essa disposição do CBV.

Não acho que os moradores lancem lixo na praia, todavia, é frequente se encontrar muitas latinhas e garrafas plásticas na beira das vias internas, inclusive da lagoa.

Essa relação é crítica. Há necessidade de uma atitude de respeito e compromisso com a natureza. Quanto a isso, pode e deve ser feita alguma coisa, assim como pela limpeza da praia. Algumas pessoas passeiam com cães e não cuidam da limpeza. Se há uma reclamação do direito de passear com os cães na praia, há também o compromisso de mantê-los na guia e de limpar as sujeiras que possam fazer.

O plástico é também um risco para os animais marinhos.

EC – Quando cheguei a Busca Vida, em 2005, uma das primeiras coisas que fiz foi monitorar quanto plástico havia na praia, afinal, sou um profissional da área de monitoramento ambiental. Recolhi todo lixo que aportava na praia, durante alguns meses, e quantifiquei. Apurei que, em média, chegavam cerca de 4 kg de plástico por cada cem metros de praia, por mês. Cheguei até a iniciar uma curiosa coleção de embalagens, com rótulos que identificavam a sua origem. Curiosamente, boa parte delas eram de origem internacional. Não tenho dados atualizados, mas não deve ter mudado muita coisa. O surpreendente é que betume, ou restos de petróleo, não é tão frequente, talvez isso reflita as atitudes internacionais de controle.

Que outra questão ambiental a ser resolvida no CBV o senhor destacaria?

EC – A reciclagem do lixo, que Busca Vida já teve e não tem atualmente. Em 2006, houve uma iniciativa para um programa interno de reciclagem. Mas as pessoas não estavam preparadas para necessidade segregação do lixo e a inciativa fracassou.

Os resíduos devem ser classificados em contêiner com código de cor, para promover a sua adequada coleta e disposição. É necessário que os moradores e funcionários sejam preparados e educados para isso.

Busca Vida pode e deve ter um programa de reciclagem de resíduos sólidos (lixo) e esta iniciativa deve ser precedida por uma campanha de educação ambiental para moradores, visitantes ou funcionários.

(Busca Vida, 05/06/2018)